19 junho 2006

Família: tempo gerúndio

O tempo é tema de infindáveis discussões filosóficas e teológicas. Mas, esta é uma crise de quem está preso nele. A minha preocupação não é com o seu aspecto metafísico, mas simplesmente prático, não que o entendê-lo seja menos importante do que vivê-lo, mas porque o meu propósito é refletir acerca do tempo que desperdiçamos com futilidades.

Desperdiçar o tempo revela algumas falhas que de outro modo não seriam percebidas. O desaproveitamento do tempo indica a falta de propósito e significado pessoal. A nossa vida não deve ser infrutífera e irrefletida. O estado de alma torna-se visível pela qualidade de tempo que se vive.

A Palavra de Deus nos adverte "lembre-se do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: não tenho neles prazer" (Eclesiastes 12:1). Embora o autor contextualmente enfatize a decadência que o processo do envelhecimento trás em nosso corpo, podemos inferir também que "não tenho neles mais prazer" envolve a perda de algo muito mais valioso do que o próprio vigor físico, ou seja, a perda de amados que o tempo tira. Isto inevitavelmente acontecerá quando chegar o "tempo de morrer" (Eclesiastes 3:2). Então, concluimos que a saudade nada mais é do que a lembrança de bons tempos que não voltam mais.

Quantos anos você tem? Quanto tempo você pensa ter ainda?

Use responsavelmente o seu tempo de forma produtiva com a sua família. Saiam juntos, recreiem, viajem, planejem, vivam no tempo gerúndio, sempre compartilhando experiências como dádivas de Deus, porque quando estivermos separados pela morte somente teremos a saudade.

Flores é um presente que só faz sentido dar para as pessoas que estão vivas, nos túmulos são apenas ornamentos.

02 junho 2006

O filho pródigo

A seqüência de parábolas narradas por Jesus, em Lc 15:3-32, talvez, sejam a melhor ilustração do perdão gracioso de Deus, que salva pecadores. As três parábolas são: a ovelha perdida (vs. 3-7); a dracma perdida (vs. 8-10); e, por fim, o filho pródigo (vs. 11-32). Embora as três narrativas tenham temas comuns, como "a perda", "o encontro", e "a alegria", elas também possuem ênfases diferentes. O famoso exegeta judeu-cristão Alfred Edersheim observa que "na parábola do filho perdido o interesse principal centraliza-se em sua restauração. Não trata da tendência natural, nem do trabalho e o pó da casa como causa atribuída à perda, mas a livre decisão pessoal de um indivíduo. O filho não se perde e se extravia; não cai e se perde da vista, mas marcha voluntariamente, e sob circunstâncias agravantes" (La Vida y los Tiempos de Jesus el Messias,vol.2, CLIE, p.203). Em nenhum momento Cristo apresenta o filho pródigo como vítima, ou como produto do meio, mas é descrito como alguém que impiedosamente age contra o seu pai, que sem afetos abandona o seu lar, e que segue para uma terra distante para ser esquecido e esquecer as suas origens.

Nesta parábola temos três personagens. Não é correto pensarmos no filho pródigo como sendo o personagem principal. O pai amoroso e o filho mais velho não são segundários, mas partes de proporcional importância nesta narrativa, abordando aspectos diferentes da mesma situação. Mas, nos referiremos a ela como tradicionalmente se tem feito: a parábola do filho pródigo. Afinal, o pecado e a manifestação prática da graça é que são os verdadeiros temas centrais nesta história. William Barclay sugere que "seria melhor chamá-la de 'parábola do pai amoroso', porque nos fala mais do amor de um pai do que do pecado de um filho" (Lucas - El Nuevo Testamento Comentado, Ed. La Aurora, p.200). O filho mais novo é um jovem que perdeu a oportunidade de ser o filho prodígio para se tornar o pródigo. Uma família judia comum, como qualquer outra nos tempos de Jesus, foi usada para ilustrar como Deus age para restaurar um relacionamento seriamente prejudicado pelo pecado.

O pecado é inerentemente sem sentido. Se tem um momento que a insensatez do pecado fica esclarecido, é quando tentamos entender o motivo de alguém que teria todos os benefícios possíveis simplesmente escolhendo praticar o amor, e insensivelmente prefere o desprezo, por causa, de algum pecado pessoal. O pecado faz filhos sairem de casa em inimizade. Casais que inicialmente fizeram juras de amor, e viveram sublimes momentos de romance se separam com ferinas palavras de amargura. Continuar desejando fartar-se de comida podre enquanto poderia comer uma refeição decente. Preferir trabalhar para um estranho, em troca de comida, deixando de construir a própria herança com o pai. Consumir todos os bens, vivendo o hoje, e esquecendo que a vida toda se dependerá de sustento. Simplesmente não faz sentido. Mas, além de insensato, o pecado também torna o indivíduo insensível. Neste caso, a maior evidência desta verdade é a insensibilidade com os próprios sentimentos, de modo, que o amor perde o seu brilho e alegria, tornando temporariamente ofuscado, sem valor e propósito.