25 maio 2007

Quando perdemos alguém que amamos!

A morte é algo extremamente doloroso. Mesmo quando alguém morre em Cristo, e nisto temos a certeza de que nos veremos novamente no futuro, o consolo na dor somente vem do Senhor. Nem por isso a separação física se torna menos angustiante. O Rev. Nelson Lautert declarou que "a morte é sempre uma intervenção radical na vida, algo antinatural, que faz parar, que confronta a pessoa com a sua própria história e a coloca nua diante do seu Criador" (Revista Ultimato, jan-fev, 1999, p. 17). A pedagogia da morte nos ensina que: "o SENHOR nos deu, o SENHOR nos tomou; bendito seja o nome do SENHOR"(Jó 1:21b). Por isso, abrace, beije e dê flores, troque presentes e crie momentos que se tornarão em memoriais para todos. O pregador de Eclesiastes afirma enfaticamente que esta vida é tão passageira e, às vezes, não nos damos conta disso (Ec 3:20).

Perder é muito mais do que morrer. A morte é uma separação física, entretanto, a amargura e a inimizade produzem uma separação de relacionamentos. A ausência do abandono deixa um vazio insubstituível. A pior perda num relacionamento é quando perdemos o coração de quem se ama. Mas, infelizmente, algumas pessoas somente valorizam quando não têm mais. Mas, o perdão e o restruturar do relacionamento, cheios da misericórdia de Deus, podem restaurar o amor. Esta é a única perca que pode ser restituída. Entretanto, ela começa com humildade e arrependimento, e por fim produz felicidade e vida abundante.

Outra forma dolorosa de se perder alguém que amamos é pela enfermidade. Sabemos histórias de pessoas que desenvolveram enfermidades mentais que lhes anularam a personalidade. Conta-se que num hospital um jovem enfermeiro começou a perceber uma assídua visita de um senhor idoso. Então, o enfermeiro abordou o senhor e lhe perguntou quem ele tanto zelosamente ia ver todos os dias. A resposta daquele homem foi: "minha esposa". "O que ela tem", questionou o enfermeiro. Simpático, o senhor respondeu: "mal de alzaimer" (*uma doença que produz esquecimento). Admirado o enfermeiro insiste, e pergunta: "porque o senhor vem vê-la todos os dias se ela não se lembra de quem o senhor é?" A experiência havia capacitado o idoso a responder com sabedoria: "meu jovem, eu amo a minha esposa, mesmo que ela não se lembre disto. Entretanto, não procuro mais o reconhecimento da minha dedicação por ela, mas demonstrar a minha gratidão por ela. Não a amo por causa da sua limitação mental, mas sofro por causa disto; porém, a amo por tudo o que ela foi, e fez e significa para mim! Ela não é um peso em minha vida. Venho todos os dias porque sinto saudades dela, mesmo estando ao seu lado. Quando jovem, prometi que estaria ao seu lado até que a morte nos separasse."

19 maio 2007

Maldições hereditárias ou pecado pessoal?

Há alguns anos o meio evangélico têm se contaminado com uma perniciosa doutrina. Este ensino diz que: "apesar de você ter Jesus como o seu Salvador, e ser salvo, é possível que existam maldições hereditárias, ou seja, maldições por causa dos pecados de algum antepassado que não tenham sido perdoados, e que conseqüentemente, ainda recaem sobre a sua vida". Então, com esta doutrina se conclui que "por isso, você não é abençoado, não prosperá, e por causa disso você tem doenças e males que não consegue se livrar, apesar de ser salvo". Usam como base bíblica, geralmente, a passagem em que Deus declara que "visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem" (Êx 20:5). A Bíblia mal interpretada é a mãe das heresias! Esta ameaça pronunciada por Deus se refere aos que não eram salvos, e permaneciam na idolatria, desprezando ao único Deus vivo e verdadeiro. O Senhor não está declarando que apesar de convertidos Ele ainda assim persistirá em amaldiçoar por causa dos pecados dos pais! A maldição é para aqueles que aborrecem ao Senhor, e não sobre os que o amam; porque sobre os que amam o Senhor, a misericórdia perdurará até mil gerações! (Keil & Delitzsch, Biblical Commentary on the Old Testament, pp. 117-118).

É verdade que alguns textos nas Escrituras declaram que o pecado dos pais têm influência sobre a vida dos seus filhos (Lv 26:39; Is 55:7; Jr 16:11; Dn 9:16; Am 7:17). Mas, isto deve ser bem entendido, pois não é uma referência à maldição hereditária, mas à persistência dos filhos de não abandonar os pecados dos pais. Sendo fiéis ao contexto histórico de toda a narrativa, perceberemos que estas passagens são exortações ao arrependimento, porque a punição era por pecados que tiveram origem nos pais, ou antepassados mais remotos, mas eram pecados ainda perpetuados e praticados por eles mesmos. Nisto percebemos que o cultivo duma cultura familiar corrompida por vícios, idolatria e imoralidades, pecados que são cometidos em família, ensinados pelos pais aos filhos trará a ausência das bençãos pactuais de Deus, mas, cada um será responsável por si, e enquanto não houver verdadeiro arrependimento não haverá transformação.

Desde o Antigo Testamento esta idéia se fazia presente no meio do povo de Israel. O profeta Ezequiel denuncia o pecado do povo por acreditar "que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram?" (Ez 18:2). Entretanto, após a repreensão segue a intrução do Senhor dizendo: "tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá (Ez 18:3-4). A argumentação do profeta continua em todo o contexto posterior, deixando bem claro que cada um é responsável pelos seus próprios pecados, e não será o filho punido por causa do pai, nem o pai por causa do filho (versos 5-22).

Os discípulos de Cristo necessitaram ser corrigidos deste erro. Numa certa ocasião encontraram um jovem cego de nascença, e questionaram: "mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?" (Jo 9:2). A redundante resposta de Jesus fechou o assunto, ao dizer que: "nem ele pecou, nem os seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus" (vs. 3). Os males físicos e temporais são instrumentos da providência de Deus, para que a Sua glória se manifeste no meio do Seu povo escolhido, e assim, a Sua vontade se torne conhecida (Jo:9:35-39; Rm 8:28).

Quando os verdadeiros crentes caem em pecado, mesmo pecados graves e escandalosos, eles não são abandonados por Deus. Deus nunca desiste deles (Rm 8:31-39). Como um Pai restaura os seus filhos, os disciplina “porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos”(Hb 12:6, ARA). O apóstolo Paulo afirma esta mesma verdade dizendo que “quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo” (1 Co 11:32). É possível cair em pecado, mas é impossível cair da graça de Deus. O teólogo inglês J.I. Packer declara que "às vezes, os regenerados apostatam e caem em grave pecado. Mas nisto eles agem fora de seu caráter, violentam sua própria nova natureza e fazem-se profundamente miseráveis, até que finalmente buscam e encontram sua restauração à vida de retidão. Ao rever sua falta, ela lhes parece ter sido loucura."[Teologia Concisa, p. 224]. O pecado é corrigido individualmente.

Como individualmente pecamos, também somos chamados ao arrependimento! Não posso me arrepender por outra pessoa; entretanto, devo interceder por ela, se ela estiver viva. Não é possível pedir perdão pelos pecados dos meus filhos, nem irmãos, pais, avós ou qualquer outro antepassado. Pecado é confessado, e somente é perdoado pessoalmente. A Bíblia diz que as bençãos da Aliança acompanharão os nossos filhos, pois eles são filhos da promessa. Se você é filho de Deus, você é co-herdeiro com Cristo Jesus do amor de Deus (Rm 8:16-17), e esta é uma promessa para os seus filhos (At 2:39). Mas a Palavra de Deus não ensina que os nossos pecados serão cobrados dos nossos descendentes. Deus haveria de puní-los por uma irresponsabilidade nossa? A doutrina da maldição hereditária nega tanto a suficiência de Cristo, em perdoar graciosamente os nossos pecados, como a fidelidade de Deus em cumprir as Suas promessas.

Recomendo para uma leitura posterior:
1. David Powlison, Confrontos de Poder (Editora Cultura Cristã).
2. Augustus Nicodemus Lopes, Batalha Espiritual (Editora Cultura Cristã).

12 maio 2007

A responsabilidade dos pais

Muitos pais dão muito aos seus filhos, menos a si mesmos. A vida pós-moderna é cheia de atividades e compromissos. Quanto mais lutamos para ter tempo, mais nos afundamos em serviços e assumimos outras responsabilidades. A nossa ausência do lar não pode ser recompensada com presentes. A presença dos pais na vida da criança é um presente insubstituível! A falta de atenção gera carência, que provavelmente produzirá problemas futuros. Entretanto, podemos conversar e organizar o nosso tempo, e um período na semana para desfrutarmos com toda a família. Além do domingo, que é o Dia do Senhor, que passamos em família, precisamos tirar um período para atividades com/para a família.

Muitos pais se preocupam em garantir aos seus filhos o melhor estudo possível. Entretanto, a melhor educação para a vida é omitida. O erudito pastor presbiteriano Donald G. Barnhouse disse que "é muito maior negligência dos pais deixar uma criança crescer sem Cristo do que deixá-la crescer analfabeta." As crianças têm mais necessidade de modelos do que de críticos. Por isso, os pais necessitam pelas suas vidas demonstrar como eles devem amar ao Senhor Jesus. Ensina-se a fazer, fazendo. Geralmente, os pais se preocupam em ensinar, ou pagam para que alguém eduque os seus filhos, como eles podem ganhar dinheiro e serem bem sucedidos nesta sociedade competitiva. Mas, ignoram, ou esquecem de que dinheiro não é sinônimo de felicidade. Devemos preparar os nossos filhos para que saibam viver na sociedade, tenham o seu sustento honesto, formem as suas famílias, sejam cidadãos exemplares, e que em tudo isto tenham o temor de Deus regendo a sua vida. Sem Cristo não há educação aprovada por Deus.

Há pouca esperança para as crianças educadas de maneira ímpia. Um lar onde tudo é permitido é um lar onde não se ama o suficiente para se exercer a autoridade conferida por Cristo. Pais cristãos não podem impor sobre os seus filhos a crueldade de permitir-lhes fazerem tudo o que quiserem. Pois, um dos maiores meios de graça na vida de uma criança é o cumprimento bíblico da disciplina. As crianças precisam de amor, principalmente quando não o merecem; e, este amor é mais do que afetividade, envolve a firmeza necessária da correção para inibir o pecado que surge no pequeno coração da criança. Tudo o que fizermos hoje no temor do Senhor, no futuro eles saberão que o fizemos por amor a eles.

05 maio 2007

Vida cristã em família

Este é o mês do lar. Durante este período teremos uma série de meditações acerca da família cristã. Estas reflexões abordarão dificuldades que os lares passam, e virtudes que necessitam ser cultivadas.

Podemos iniciar com a simples pergunta: o que é família? Consideremos primeiro que o dinheiro pode edificar uma casa, mas é necessário amor para fazer dela um lar. Porque o lar não é um edifício, mas uma estrutura de relacionamentos. Não podemos ignorar que maridos providenciam bens para as suas esposas, mas não nutrem as suas carências; que muitos pais dão de tudo aos seus filhos, menos a si mesmos. O relacionamento que nutre um lar não é de desconfiança e amargura, mas o temor do Senhor e o amor. A família é formada por um grupo de pessoas que vivem um vínculo de interdependência mútua, que nutrem, cuidam, preocupam-se, e amam com vigor existencial.

Mas, não estamos falando de simples famílias. Elas têm um adjetivo: são cristãs! O que as torna diferentes? Podemos mencionar algumas virtudes que as distinguem: primeiro, a presença de Cristo reinando no lar; segundo, o temor do Senhor; terceiro, o uso da Palavra de Deus na tomada de decisões; quarto, a prática contínua da oração. Nenhum culto a Deus tem valor, se entra em contradição com a vida no lar. A experiência tem comprovado que a marca registrada do hipócrita é ser um cristão em todo lugar, menos dentro de casa. O melhor teste para um cristão santificado está naquilo que a sua família diz sobre ele.