26 julho 2007

Quem eram os puritanos?

O Puritanismo foi um movimento que surgiu dentro do protestantismo britânico no final do século 16. A Inglaterra estava separada da submissão papal, mas não da doutrina, liturgia, e ética católica. O rei inglês Henrique VIII por motivos pessoais, e não por convicção teológica liderou uma reforma política no Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de Gales) que defendia o rompimento com a Igreja Católica Romana, vindo a originar-se a Igreja Anglicana. O monarca inglês faleceu e o seu filho, Eduardo VI, tornou-se rei em seu lugar. O jovem regente inglês possuía conselheiros influenciados pela Reforma protestante. Alguns teólogos e professores foram convidados para liderar a Reforma na Inglaterra. Entretanto, este projeto não foi adiante, pois o novo rei veio a falecer prematuramente. A sua irmã mais velha, Maria Tudor, a sangüinária, assumiu o trono ordenando a morte de todos os protestantes, prendendo e expulsando muitos outros do Reino Unido.

Em 1559, Elizabeth sucedeu à sua meia-irmã Maria Tudor. A nova rainha da Inglaterra era simpatizante da Reforma. Ainda em 1559, solicitou a revisão do Livro Comum de Oração, e editou em 1562, os 39 Artigos de Fé[1] como padrão doutrinário da Igreja Anglicana.[2] Autorizou a volta dos reformadores ingleses exilados. Todavia, os que retornaram estavam insatisfeitos com a lenta e parcial Reforma eclesiástica que Elizabeth estava realizando. Justo L. González comenta que os que foram expulsos “trouxeram consigo fortes convicções calvinistas, de modo que o Calvinismo se estendeu por todo o país.”[3] Eles haviam contemplado o que os princípios da Reforma poderiam fazer em outros países, agora estavam comprometidos em aplicá-los em sua terra natal.

Os que defendiam que a Igreja Anglicana carecia duma completa Reforma foram apelidados jocosamente de "puritanos". De fato, os puritanos acreditavam que a igreja inglesa necessitava ser purificada dos resquícios do romanismo. Eles clamavam por pureza teológica, litúrgica, e moral! Henrique VIII embora discordasse da Igreja Católica acerca dos seus divórcios, ele morreu sustentando o título de Defensor da fé Católica. Mas, os puritanos também ansiavam por mudanças litúrgicas, pois, mesmo a Inglaterra se declarando protestante, a missa ainda era rezada em latim, eram usadas as vestimentas clericais, velas nos altares, e o calendário litúrgico e as imagens de santos eram preservadas. Era uma incoerente ofensa aos reformadores ingleses.

A começar pela liderança da Igreja, a prática do evangelho não estava sendo observada. Os puritanos exigiam não apenas mudanças externas, religiosas e políticas, mas mudança de valores, manifesto numa ética que agradasse a Deus, de conformidade com a Palavra de Deus. Foi por causa deste último ponto que o apelido puritano tornou-se mais conhecido. Eles eram considerados puros demais, porque queriam ter uma vida cristã coerente com a Escritura!Infelizmente, uma caricatura horrível é feita deste movimento. Não poucas vezes os puritanos são criticados e mencionados com desdenho; entretanto, isto apenas evidencia a ignorância acerca da grandiosidade da obra e esforço destes homens e mulheres. Muitos perderam a sua vida por serem zelosos com o estudo e ensino das Escrituras Sagradas, por viver consistentemente o puro evangelho de Cristo![4]

O presbiterianismo é herdeiro direto deste movimento. Os Padrões de Fé de Westminster são produto da melhor erudição e piedade puritana do século 17. Os presbiterianos que migraram para os EUA, eram todos puritanos. A oração fervorosa, o culto sóbrio e equilibrado, o estudo da Escritura e a pregação da Palavra de Deus, tanto pelo ensino como pela prática de uma vida simples, eram marcas que distinguiam estes homens, que influenciaram o Cristianismo europeu e norte-americano, e que chegou até ao Brasil, através do missionário Rev. Ashbel G. Simonton.

Notas:
[1] Este documento doutrinário é essencialmente calvinista. Os 39 Artigos de Fé serviram para preparar a abertura de um processo de divulgação do Calvinismo na Igreja Anglicana que culminaria na Assembléia de Westminster (1643-1648), que produziu a Confissão de Fé e os Catecismos Breve e Maior. B.B. Warfield, Studies in Theology in: The Works of. B.B. Warfield, pp. 483-511.
[2] A maioria dos clérigos anglicanos relutam, ainda hoje, em adotar uma posição de consistência teologicamente calvinista. Em geral, os teólogos anglicanos adotam a Via Media, ou seja, eles tentam conciliar a teologia romana com a protestante, e formar um sistema doutrinário sincretista. Veja E.A. Litton, Introduction to Dogmatic Theology (London, James Clark &CO, LTD, 3ªed., 1960), pág. xi-xv. A liturgia anglicana ainda segue o The Book of Common Prayer (Livro Comum de Oração), embora dentro da Comunhão Anglicana cada Província é livre para alterar e adaptá-lo.
[3] Justo González, Visão Panorâmica da História da Igreja (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1998), p. 70.
[4] Leitura indispensável sobre este movimento são as obras:
1. D.M. Lloyd-Jones, Os Puritanos - suas origens e seus sucessores (PES).
2. J.I. Packer, Entre os Gigantes de Deus - uma visão puritana da vida cristã (Editora Fiel).
3. Leland Ryken, Santos no Mundo - os puritanos como realmente eram (Editora Fiel).

6 comentários:

giovana disse...

Parabéns pelo seu trabalhO gosteii mtO kara!!!
eO tavh prescisandO prO meO trabalHo Sakas/???
EOo AXEII TUDO

Brasileiros nos E.U.A disse...

Gostei do post sobre os Puritanos, no mais diferente od autor do blog, acredito que deus é uma criação do homem.

Anônimo disse...

Ai ai ... as crianças vêm fazer ctrl-c, ctrl-v aqui pra entregar trabs na escola e ainda criticam o autor do blog no que diz respeito a sua crença. rs

Anônimo disse...

Grande texto, Rev.Ewerton. Soli Deo Gloria!

novoapocalipse.org disse...

Bem aplicada, as considerações sobre a origem dos puritanos. Fui recomendado a ler o livro: Os Puritanos, suas origens e seus sucessores. Muito bom saber a história da igreja. Deus vos abençoe!

Unknown disse...

Excelente, Rev.!

Algumas informações que podem acrescentar é que o rei Eduardo VI, foi educado por Cranmer, arcebispo da Cantuária e posteriormente de Canterbury, amigo pessoal de Calvino, Martin Bucer, o reformador de Estrasburgo, que passou os seus últimos anos na Inglaterra, e o reformador polonês Jan Laski, pastor da Igreja de Estrangeiros em Londres. João Calvino correspondeu-se com o rei Eduardo e com Somerset, o lorde protetor.
Daí vemos uma 'influente' pré-consolidação do protestantismo! Mas, de fato, Maria, a Sanguinária, acabou com tudo! rsrs só contendo o ódio aos protestantes, porque apaixonou-se por um, pretenso, talvez, o espanhol, Felipe.

Há quem questione o catolicismo de Henrique VIII, na sua morte. O próprio Thomas Cranmer (precisa biografia desse reformador em http://exemplosdahistoria.blogspot.com.br/2012/09/thomas-cranmer.html) escreveu que ele confessou o Deus Trino e clamou misericórdia a Jesus Cristo! A historiadora Nancy Bilyeau escreveu que: "deitado sobre sua grande e suntuosa cama no Palácio de Whitehall, respondeu que ele acredita que “a misericórdia de Cristo, é capaz de perdoar-me todos os meus pecados, sim, apesar de serem maiores do deveriam ser.” - Enfim.

Apesar de ter sido uma época tão animosa, o Deus Soberano guiou os fatos com tamanha precisão e sabedoria que se os impulsos pecaminosos de Henrique VIII, a engenhosidade de Ana Bolena e a contemporaneidade dos reformadores não convivessem no mesmo espectro de tempo, não haveria o rompimento do Estado Inglês com Roma, nem o surgimento do puritanismo, e mais tarde, do próprio presbiterianismo.

Como bradou o salmista: "Justos são todos os teus caminhos, Deus Meu e Rei Meu!"