29 novembro 2007

Por que somos presbiterianos? - 7

Cremos que a salvação do homem não decorre de nenhum tipo de boas obras que venha a realizar, nem de alguma virtude ou mérito pessoal, mas sim do favor imerecido de Deus (Rm 3:20,24, 28; Ef 2:1-10). Em decorrência da Queda, todo ser humano nasce com uma natureza totalmente corrompida, de modo que não pode vir a agradar a Deus, a não ser pela ação soberana e eficaz do Espírito Santo, o único capaz de iluminar corações em trevas e convencer o homem do pecado, da culpa, da graça e da misericórdia de Deus em Cristo Jesus (Rm 3:19,20).

Todo ser humano em seu estado natural é escravo do pecado. O teólogo puritano Stephen Charnock observou que “todo pecado é uma espécie de amaldiçoar a Deus no coração. O homem tenta destruir e banir Deus do coração, não realmente, mas virtualmente; não na intenção consciente de cada iniqüidade, mas na natureza de cada pecado.”[1] A dureza de coração lhe é normal, por que ele está rígido como uma pedra (Ez 36:26-27).

O livre arbítrio perdeu-se com a Queda. A capacidade de agir contrário à própria natureza foi perdida com a escravidão do pecado. No início, Adão sendo santo foi capaz de escolher contrário à sua inclinação natural de perfeita santidade e, decidiu pecar. Tornando-se escravo do pecado, o primeiro homem livremente passou a agir de acordo com a escravidão dos desejos mais fortes da sua alma corrompida pela iniqüidade, e por si mesmo é incapaz de não pecar. Ele é livre, mas a sua liberdade é usada tendenciosamente para pecar de conformidade com os impulsos de sua inclinação para o pecado. Se ele for deixado para si mesmo, ele sempre agirá de acordo com a sua disposição interna, ou seja, naturalmente sempre escolherá pecar (Rm 1: 24-32; 3:9-18; 7:7-25; Gl 5:16-21; Ef 2:1-10).

A causa da nossa salvação é devido a ação da livre e soberana graça do nosso Deus. A Confissão de Fé de Westminster declara que "todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, tirando-os por Jesus Cristo daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação. Isto ele o faz, iluminando os seus entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando lhes corações de carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça."[2]

Notas:
[1] Stephen Charnock, The Existence and the Attributes of God (Grand Rapids, Baker Books, 2000), vol. 1, pág. 93
[2] Confissão de Fé de Westminster, X.1

16 novembro 2007

Por que somos presbiterianos? - 6

A Igreja Presbiteriana possuí o seu sistema doutrinário centrado na Escritura Sagrada. Ela se preocupa em andar pautada e regulada pela Bíblia, que é a Palavra de Deus. Desde a Reforma do século 16 foi ensinada a doutrina da Sola Scriptura – ou seja, que a Escritura é a única fonte e regra de autoridade. Isto significa que a base da nossa doutrina, forma de governo, culto e práticas eclesiásticas não está no tradicionalismo, no racionalismo, no subjetivismo, no relativismo, no pragmatismo, ou no pluralismo, mas extraída e fundamentada somente na Escritura Sagrada, por que cremos que ela é a verdade absoluta revelando a vontade de Deus.

Cremos que a Palavra de Deus registrada no Antigo e no Novo Testamento, sendo escrita por autores humanos, foi inspirada por Deus (2 Tm 3:16) garantindo a sua inerrância, autoridade, suficiência e clareza. Absolutas verdades existem na mente de Deus, que através da revelação elas vêm à mente do escritor original, assim na inspiração esta revelação registra-se em Escritura: a Palavra de Deus em palavras humanas. Com a preservação dos manuscritos temos os textos atuais que precisam ser criteriosamente comparados para termos o que foi originalmente escrito pelos autores. Pela tradução obtemos as nossas versões que procuram transmitir fielmente o significado essencial do texto original. Por fim, através da interpretação a verdade chega a mente do leitor representando proposicionalmente a verdade original da mente de Deus.

As Escrituras são a autoridade suprema em que todas as questões doutrinárias e eclesiásticas devem ser decididas (Dt 4:2). Esta doutrina é importantíssima para a purificação da Igreja. Tudo o que nela não se lê, nem por ela se pode provar, não deve ser exigido de pessoa alguma que seja crido como artigo de Fé ou, julgado como exigência ou, necessário para a salvação. Na Bíblia o homem encontra tudo o que precisa saber, e tudo o que necessita fazer a fim de que seja salvo, e viva de modo agradável a Deus, servindo e adorando-O (2 Tm 3:16-17; 1 Jo 4:1; Ap 22:18). Somente a Escritura Sagrada é autoridade absoluta para definir as nossas convicções, porque apenas nela encontramos a verdadeira sabedoria do alto. Ela rege as nossas decisões e molda o nosso comportamento, como também determina a qualidade dos nossos relacionamentos.

07 novembro 2007

Orgulho: um perigo fatal

O orgulho é a disposição de mostrarmos uma condição superior àquilo que realmente somos. Por mais capazes que sejamos, nunca poderemos nos esquecer que Deus nos faz servos. Por isso, no Antigo Testamento a palavra hebraica para orgulho realça a altivez ilusória da pecador, e no Novo Testamento, a palavra grega refere-se ao engano de olhar por cima dos demais, considerando-se insensatamente superior aos outros.

Esta disposição transforma-se em pensamentos, motivações, sentimentos e finalmente concretiza-se em comportamento tolo. É interessante como este pecado é tão comum em todo ser humano, e ao mesmo tempo tão prazeiroso, e tão difícil de ser reconhecido em si mesmo. Mas, é precisamente por causa do próprio orgulho, é que ele se esconde, isso ocorre simplesmente porque somos motivados pelo sentimento de auto-preservação. O orgulho é sujo demais para aparecer manchando a nossa tão ilustre imagem! C.S. Lewis observa que “o orgulho é um câncer espiritual: devora toda possibilidade de amor, de contentamento ou até mesmo de senso comum.”[1]

O resultado final do pecado que ostenta, e que nos ilude com uma pseudo-elevação [altivez] será uma vergonhosa queda. Os efeitos do orgulho são: engano do coração (Jr 49:16); endurecimento da mente para a verdade (Dn 5:20); produção da inimizade (Pv 13:10); leva à auto-destruição (Pv 16:18; 2 Sm 17:23); esgota as energias, porque o esforço de manter o orgulho é demasiado difícil para ostentá-lo de forma permanente (Sl 131). A Palavra de Deus diz que Ele resiste ao soberbo (Tg 4:6).

A cura para o orgulho não está na maturidade obtida com os anos. A Escritura não recomenda que o neófito seja aceito na liderança da igreja para que não corra o perigo de tornar-se soberbo (1 Tm 3:6). Entretanto, a altivez não é vencida pelo acúmulo da experiência ou de conhecimento, mas, somente com o quebrantamento produzido pelo Espírito do Senhor. A Escritura Sagrada nos ordena que devemos nos humilhar na presença do Senhor, e ele nos exaltará (Tg 4:10). Noutro lugar, Tiago disse: “meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que receberemos maior condenação” (Tg 3:1).

Aquele que é identificado como ostentando uma soberba visível deve ser repreendido com amor. O princípio é muito simples: quem não é humilde não pode ser imitador de Cristo (Jo 13:1-11). Não importa quanto tempo de membro de uma igreja local você tenha, se o orgulho é uma característica dominadora em seu caráter, ele está te desqualificado para ser servo dos servos do Senhor.

Notas:
[1] C.S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples (São Paulo, Ed. ABU, 1997), 70