17 outubro 2008

Você fala palavra torpe?

A Palavra de Deus nos adverte que “não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem (Efésios 4:29, ARA). A nossa boca é fonte de benção e maldição, mas o apóstolo Tiago nos diz que isto não deveria ser assim (Tiago 3:10). Por isso, devemos cuidar do que sai dela. O termo torpe usado por Paulo significa corrompido (do grego sarprós), e, indica toda palavra ou conversa que em si seja prejudicial, desvirtue ou ofenda os ouvidos de quem a recebe; e, isto envolve desde palavrões, mentiras, até a maledicência.

O Senhor Jesus disse que a boca fala do que o coração está cheio (Mateus 15:18-19). Assim, entendemos que quando uma pessoa fala uma palavra torpe, ou corrompida, ela está manifestando uma condição de corrupção em seu coração, isto é, algo que ainda não foi transformado pelo Espírito Santo (Romanos 3:14). Deste modo, o seu testemunho é falso, porque as suas palavras contradizem a santidade de Deus.

A palavra dura que suscita a ira também é torpe, porque ela corrompe a busca de uma disposição pacífica das pessoas (Provérbios 15:1). Provocar a ira de alguém através da repreensão insensata, ou do grito, ou mencionando algo que desperta um doloroso trauma é pecado, porque estamos provocando uma fraqueza no outro, que provavelmente irá levá-lo a pecar. Em vez, de auxiliá-la em sua santificação, na verdade estamos suscitando pecados que deveriam ser mortificados, daí, corrompemos o outro com a nossa palavra e não edificamos.

Nenhum servo de Deus deve falar o que corrompe. Não devemos mencionar palavrões, contar mentiras, falar mal ou enfatizar os defeitos da vida dos outros, nem contar piadas indecentes, ou que ridicularizem com o nome de Deus. É nosso dever transmitir graça aos que nos ouvem, e não pecado. A nossa conversa deve nutrir as necessidades das pessoas e não corrompê-las. Assim, eu desejo a benção de Deus para a sua vida e graça para você!

11 outubro 2008

Não sou evangélico!

Ultimamente prefiro ser chamado de cristão reformado. Este nome indica a minha identidade doutrinária e histórica, ou seja, sou cristão e, isto diz muito coisa, e sou reformado, porque sou herdeiro do movimento de Reforma da Igreja que ocorreu no século XVI. Apenas nestas duas afirmações temos muito que compartilhar de edificante. Mas, num outro artigo poderemos discorrer sobre a riqueza da herança reformada. Por alguns motivos tenho descartado ser reconhecido como evangélico, porque estamos vivenciando uma verdadeira confusão doutrinária e ética nestes tempos pós-modernos. A maioria dos evangélicos ignora que, crer é também pensar! Ser evangélico tem se tornado sinônimo de um grupo de pessoas manipuláveis pelas suas emoções, e dirigidas por interesses que não são nobres nem dignos do Senhor Jesus.

Esta superficialidade se evidencia pelo culto que parece ser configurado para estimular o sistema nervoso e não a mente. O sentir e não o aprender é uma característica em relevo! Realmente em algumas reuniões a adoração deixou de ser um culto racional, para se tornar um momento de excitação emocional (Rm 12:1-2). Não importa entender o que está acontecendo, o que está se fazendo, o que Deus está falando, pelo contrário, os novos adoradores estão querendo extravasar a sua alegria, os seus sentimentos, deixar fluir o seu calor humano! O prazer tomou o lugar do quebrantamento, a liberdade substituiu a reverência e os sentimentos usurparam a posição que o conhecimento tem na vida cristã. James M. Boice e Philip G. Ryken observam que

o que uma vez foi falado das igrejas liberais precisa ser dito das igrejas evangélicas: elas buscam a sabedoria do mundo, creêm na teologia do mundo, seguem a agenda do mundo, e adotam os métodos do mundo. De acordo com os padrões da sabedoria mundana, a Bíblia torna-se incapaz de alimentar as exigências da vida nestes tempos pós-modernos. Por si mesma, a Palavra de Deus seria insuficiente de alcançar pessoas para Cristo, promover crescimento espiritual, prover um guia prático, ou transformar a sociedade. Deste modo, igrejas acrescentam ao simples ensino da Escritura algum tipo de entretenimento, grupo de terapia, ativismo político, sinais e maravilhas - ou, qualquer promessa apelando aos consumidores religiosos. De acordo com a teologia do mundo, pecado é meramente uma disfunção e salvação significa desfrutar de uma melhor auto-estima. Quando esta teologia adentra a igreja, ela coloca dificuldades em doutrinas essenciais como a propiciação da ira de Deus substituindo-a com técnicas e práticas de auto-aceitação. A agenda do mundo é a felicidade pessoal, assim, o evangelho é apresentado como um plano para a realização pessoal, em vez de ser a caminhada de um comprometido discipulado. Para terminar, vemos que os métodos do mundo nesta agenda egocêntrica é necessariamente pragmática, sendo que as igrejas evangélicas estão se esforçando a todo custo em refletir o modo como elas operam. Este mundanismo tem produzido o 'novo pragmatismo' evangelicalismo[1].


Em parte a culpa é dos pastores que desejam ser apenas animadores de palco e que se esqueceram, ou não aprenderam, e pior ainda, não querem estudar o que realmente significa o seu verdadeiro chamado como pregador da Palavra de Deus. Conduzem o seu rebanho e os alimentam num culto estilo “louvorzão” para animar o coração duma multidão de adoradores que vão às reuniões para fazer o seu karaokê gospel e satisfazer o seu gosto pessoal. E, nisto tudo há pouco conteúdo da Palavra de Deus sendo cantado, apenas importam os ritmos e movimentos, coreografias sem sentido no mover de véus e luzes coloridas.

A falta de preocupação em se ouvir, alimentar e viver o ensino da Escritura Sagrada está tornando o meio evangélico desnutrido do seu poder, e de sua autoridade espiritual. Em contraproposta chegam novos movimentos, outros modismos com nomes cada vez mais mirabolantes, unções bizarras, invencionices esquisitas e até neologismos de antigas heresias, como por exemplo, paipóstolos! Talvez, tão vergonhosa situação explique porque líderes evangélicos vendem não somente a própria alma, e em tempo de eleições, desavergonhados negociam o voto “porteira fechada” da sua igreja com políticos que não são menos corruptos. Ou ainda, talvez, esta situação explique porque os evangélicos, que estatisticamente ainda é o movimento religioso que mais cresce, é também o que menos influencia socialmente. Uma pesquisa indica que o estado de Rondônia tem 27,75% de sua população confessando ser evangélica [2]; todavia, o impacto causado por este evangelicalismo em nossa região somente é percebido quando se faz shows ou alianças políticas de moral duvidosa.

Há ainda um mercado gospel que move muito dinheiro. Ressurge nestes tempos pós-modernos a prática medieval da simonia! Vende-se de tudo: cargos eclesiásticos em troca de poder; favores políticos em troca de voto; prosperidade financeira no lugar de santidade; e, a lista não termina aí. Objetos que são uma verdadeira macumba travestida de evangelho, em que, sal grosso, galho de arruda, água abençoada, água do rio Jordão, redinha do Mar da Galiléia, e uma infinidade de relíquias se multiplicam conforme a ambiciosa imaginação de quem torna a religião uma mercadoria ao gosto do cliente, que procura mestres segundo o seu interesse (2 Tm 4:3-4). A multidão que vai atrás de pão e cura nunca termina.

É muito estranho como parece difícil para o evangelicalismo rondoniense entender simplesmente o que é o Cristianismo puro e simples segundo a Escritura Sagrada. O assunto em si não é assim tão complicado, o que falta é um comprometido estudo da Palavra, e a necessidade de um pacto com o próprio coração de viver os valores absolutos e inegociáveis dentro da vontade de Deus. Por isso, insisto: não me chamem, nem me confundam com um evangélico, pelo menos enquanto este grupo for sinônimo de uma vida movida por uma graça barata e, vazio do antigo evangelho de Cristo Jesus![3]

[1] James M. Boice & Philip G. Ryken, The Doctrines of Grace (Wheaton, Crossway Books, 2002), pp. 20-21.
[2]Informação extraída de www.cacp.org.br/midia/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=1092&menu=16&submenu=5 acessado em 10 de Outubro de 2008.
[3] Para os desavisados de plantão a pintura acima é de Martinho Lutero na Dieta de Worms posicionando-se definitivamente contra a teologia romanista.