27 novembro 2014

Carta para minha filha mais velha

Minha amada Larissa

Hoje é seu aniversário, e gostaria de registrar algumas palavras a seu respeito.

Você se tornou uma jovem cativante. O que mais me alegra é saber que você não atrai recorrendo à sensualidade, algo tão comum entre muitas jovens nestes nossos dias, mas são as suas virtudes que honram a Cristo. De fato, a sua beleza física é percebida, mas não é ela que te enobrece, nem valoriza quem é você. Admiro o seu bom humor e franqueza. Você sabe ser engraçada sem ser vulgar. Acho que isso é um equilíbrio raro entre a sinceridade e a moderação.

Eu e Vanessa te amamos e oramos por sua vida. Tenho-a em meu coração com um santo afeto no Senhor nosso Deus. Também será parte da minha alegria nesta vida vê-la andando na piedade e na comunhão do povo de Deus. Como estou lhe devendo uma carta, está será a que darei alguns conselhos que serão úteis para toda a vida:

1. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Sei que você sabe este verso de cor, e a familiaridade, por vezes, é nossa inimiga. A verdade “tão bem conhecida” corre o risco de ser desvalorizada, não meditada, e por fim, não praticada. O sublime pode se tornar comum, e a riqueza da verdade facilmente desvalorizada pelo nosso orgulho de obter reflexões mais profundas e mais complexas. Todavia, a verdade que alimenta não depende da extensão, da profundidade ou da complexidade de raciocínio, e sim, da fidelidade, do zelo e fiel obediência. O temor do Senhor diariamente nos recorda que tudo na vida precisa nortear-se pela sabedoria do alto. Você sabe que “enganosa é a graça, e vã, a formosura, mas a mulher que teme ao SENHOR, essa será louvada” (Pv 31:30), e também “como joia de ouro em focinho de porco, assim é a mulher formosa que não tem discrição” (Pv 11:22).

2. Tome cuidado com o seu orgulho. Não seja tola em aparentar uma superioridade sobre as demais pessoas. É verdade que todos temos dificuldade de admitir o orgulho, mesmo porque ele cria em nós um sentimento de autopreservação, que nos impede de assumir publicamente o quão feios somos sem a graça de Deus. Mortifique este perigoso impulso pecaminoso. Nunca se dê por satisfeita, certifique-se de que a sua soberba está dominada pela glória de Cristo. Não se engane este pecado é difícil de matar, porque ele se alimenta de quase tudo, desde simples e inofensivos elogios, do conhecimento adquirido, da posição honrada, até mesmo da vitimização e do sofrimento! Por isso, questione-se constantemente o quão dependente você é do elogio e da aprovação dos outros? Quão preocupada que os outros saibam das suas virtudes e feitos. Como você reage às críticas? O que ocorre dentro do seu coração quando alguém te rejeita? Qual a sua reação quando alguém manifesta orgulho diante de você? O Pr Joel R. Beeke certa vez, num sermão, disse: “Deus odeia o orgulho com o seu coração, amaldiçoa-o com a boca, e pune-o com as mãos.” Parece-me que C.S. Lewis está correto em observar que “todo pecado nos põe contra Deus, o orgulho é um ataque contra Deus. É o mais completo estado de alma antiDeus. A soberba eleva o nosso coração acima de Deus, sem Deus e contra Deus!” Por isso, um cristão orgulho é tão contraditório e estranho como um demônio humilde. Lembre-se do que nos adverte a Escritura “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4:6), e ainda, “a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Pv 16:18). Você sabe que uma pessoa soberba é alguém que tem uma alma amarga. A pessoa arrogante é enganada pelo próprio coração (Jr 49:16), tem a mente endurecida (Dn 5:20), enche-se de inimizades (Pv 13:10), e não encontra descanso (Sl 131). Não existe piedade prática sem antes vencermos a presunção de vivermos sem dependermos do Senhor Deus. Medite na humildade e glória de nosso Redentor (Mt 11:29; Jo 13:14-15 e Fp 2:5-11).

3. Alimente-se diariamente com a Escritura Sagrada. Leia o grande livro, medite nele, decore várias e tantas quantas porções for capaz, e siga a recomendação do salmista “de que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra. De todo o coração te busquei; não me deixes fugir aos teus mandamentos. Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Sl 119:9-11). A incredulidade é contagiosa e teimosa, e por este motivo deve ser vencida pela verdade que liberta. Ter dúvidas não é um problema, mesmo porque dúvida e incredulidade não é a mesma coisa. A dúvida deve ser um auxílio para a verdadeira fé, quando descobrimos que o misticismo, ou superstição querem adulterar a nossa comunhão com Cristo, então, o conhecimento de Deus nos dá o correto conhecimento a nosso respeito, e da relação que ele requer para o nosso culto racional, renovando a nossa mente. O verdadeiro problema da dúvida é quando ela se torna numa incredulidade rebelde diante da verdade revelada. Nisto penso estar correto o escritor Os Guiness ao declarar que “Deus não é apenas uma pessoa, ele é a pessoa suprema de quem dependem todos os seres humanos, sem falar da própria vida e de toda a nossa existência. É por isso que confiar nele é conhecê-lo, confiar nele é começar a conhecer a nós mesmos. É por isso que o nosso fim supremo é glorificar a Deus e desfrutá-lo para sempre. É por isso também que confiar em Deus na escuridão seja tão difícil, e duvidar de Deus seja tão devastador.” O Senhor Deus dá a sua Palavra como única regra de fé e prática para nos revelar o seu Ser e a sua vontade, e modo como devemos nos relacionar com ele. Sabemos que “toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3:16-17). J.I. Packer comenta que a Escritura “manda que transformemos cada verdade aprendida sobre Deus em assunto de meditação diante de Deus, conduzindo-nos à oração e ao louvor a Deus.” De modo similar Charles H. Spurgeon disse que “não conheço coisa que possa confortar mais a alma, acalmar as ondas da tristeza e da mágoa, pacificar os ventos da provação do que uma meditação piedosa a respeito da Divindade”. Se quisermos algo que satisfaça a nossa mente devemos alimentar com pensamentos da glória de Deus. Jeremias registra que “assim diz o SENHOR: não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas cousas me agrado, diz o SENHOR” (Jr 9:23-24).

Deus a abençoe e a faça bela, na beleza da sua santidade.

Em Cristo,
Ewerton